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ÉTICA NA MONTANHA

      O montanhismo, seja como esporte ou simplesmente como forma de lazer, sempre foi pautado por um conjunto de valores e princípios que pudesse, principalmente, garantir o respeito aos próprios montanhistas e ao meio ambiente. Esse conjunto de valores e princípios, adotado por quase todos os praticantes, representa a ética que rege o montanhismo.

 

       Ainda não existe um documento único que possa ser considerado o "Código de Ética do Montanhismo", apesar de já haver um grande esforço e mobilização para a elaboração do mesmo. Já existem, no entanto, diversas boas referências que exprimem a ética do montanhismo e servem como orientação a montanhistas e escaladores, sejam em locais nos quais já exista uma maior consciência sobre o tema ou em áreas onde ainda não há um consenso de opiniões acerca do caminho mais adequado a ser seguido. A intenção desses textos e referências não é abordar questões do montanhismo de forma imperativa, e sim provocar no indivíduo uma reflexão antes de cada ato nas montanhas. Esses textos estão disponíveis na internet nas páginas da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME), das federações de montanhismo dos estados e também dos clubes de montanhismo em geral. Pedimos a todos que os leiam, adotem e divulguem.

 

        Destacamos a seguir um breve excerto de um desses documentos, que foca principalmente na importância do respeito às montanhas, às vias de escalada à diversidade de estilos. O texto completo está disponível na página da Federação de Montanhismo do Estado do Rio de Janeiro (FEMERJ).

 

     “Os montanhistas não são iguais. Não só em relação à aparência física, força muscular ou habilidade técnica – cada um tem uma forma peculiar de enxergar o mundo. E isso depende não apenas dos órgãos dos sentidos, mas também de todas as experiências, crenças, valores, atitudes e cultura que se adquire na vida.

       Não é à toa que existem tantas formas distintas de esportes de montanha. Algumas valorizam o aspecto de cinestesia, habilidade, técnica e força, procurando minimizar artificialmente os perigos objetivos. Outras dão mais importância ao lado da aventura e enfatizam a capacidade de planejamento e organização, a velocidade de progressão e fuga, a resistência ao estresse, a tolerância ao risco e à exposição, valendo-se mais de habilidades pessoais dos praticantes para redução do risco do que de artifícios tecnológicos.

      A opção por uma ou outra, ou mesmo por um sem número de formas intermediárias, cabe exclusivamente ao indivíduo. Cada pessoa escala por uma razão específica, aproveitando a montanha de uma forma bem pessoal. Cabe ao montanhista escolher o desafio apropriado, não só às suas habilidades, mas também à sua visão de mundo, à sua capacidade de suportar o risco e ao seu desejo de aventura.

      O montanhismo mundial e, em particular, o Brasil, adotaram o direito autoral como forma de assegurar a pluralidade de estilos. Essa opção foi feita visando a um equilíbrio entre as diversas formas de conquistar e escalar e para evitar que um determinado estilo prevaleça sobre os demais. Os montanhistas entendem que cada um deverá praticar a escalada que achar mais adequada ao seu gosto. Desta forma, faz-se necessária a existência de vias de escaladas dos mais variados tipos.

      A ética no montanhismo consiste, portanto, em reconhecer e respeitar a diversidade de formas de se curtir a montanha. Ninguém deve querer impor aos outros o nível de proteção que considera adequado, tampouco a sua filosofia de segurança, pois a pluralidade de estilos é uma das maiores riquezas dos esportes de montanha.”

 

      Em linhas gerais, adote sempre o seguinte procedimento ético: não altere o padrão de proteção das vias de escalada sem o consentimento dos conquistadores. Na ausência destes, procure o clube de montanhismo ao qual pertencia o conquistador, a comunidade montanhista local ou o Parque Nacional do Itatiaia. Se uma via foi conquistada com muitos grampos, ou com uma grampeação longa, ou ainda com proteções móveis, devem-se respeitar esses estilos. Se uma via não tem segurança suficiente para o seu gosto, significa que é demasiadamente difícil para você ou que não é o estilo de escalada que você está acostumado a fazer. É válido lembrar que o escalador deve se preparar física, técnica e psicologicamente para as escaladas que deseja realizar. Procure elevar o seu grau de preparo até o nível da escalada, e não o inverso, rebaixando a via até o seu nível.

 

      Com relação às conquistas de novas vias, seja consciente e ponderado. Existem quase 400 opções de escalada e montanhismo de todos os estilos e gostos na região de Itatiaia. Antes de conquistar uma nova via, explore as já existentes, aventure-se e conheça um pouco mais. Do mesmo modo, evite conquistas em locais que já apresentam uma grande ou excessiva quantidade de vias. Há diversos locais fantásticos e ainda inexplorados no Planalto do Itatiaia, com paredes intactas, algumas com mais de 200 metros, e cumes raramente visitados. Observe o regulamento do Parque sobre conquistas de novas vias. Enfim, seja consciente nas novas conquistas, pois serão sempre bem-vindas, desde que respeitem a ética do montanhismo, a comunidade montanhista local e as regras do Parque.

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